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“Diariamente, na cidade de Maputo e Matola, cerca de 900 mil pessoas procuram transportes nestas duas cidades e 70 a 80% deste número viaja nos semi-colectivos de passageiros e os restantes são cobertos pelos autocarros dos Transportes Públicos de Maputo, os TPM.
Em 2004, circulavam por dia, em 11 linhas, 4200 carrinhas dos vulgo “chapa cem”, havendo inclusive uma concorrência saudável entre os transportadores, culminando em situações de alguns fazerem promoções de tarifas, baixando os preços de 7,50 para 5 meticais. Hoje, a Associação dos Transportes Rodoviários de Maputo (ATROMAP) fala de uma existência de 600 carros, menos 3.570 unidades, sendo insignificante face à procura.
Esta crise de transportes resulta em grande medida, de uma decisão mal tomada pela Assembleia Municipal de Maputo, que entendeu por bem proibir, há uns tempos, o licenciamento de Mini-Bus de 15 lugares, alegando que não eram cómodos. De seguida, assistiu-se a um autêntico pandemónio, em que os transportadores semi-colectivos de passageiros, cujas licenças eram renovadas semestralmente, ao preço de 1.300 meticais, foram empurrados, pelo próprio município, para a ilegalidade.
Perante esta situação, o Conselho Municipal de Maputo, com o apoio do Governo central, é chamado a definir uma estratégia dos transportes tendente a resolver o problema do transporte na capital, em coordenação com o município da Matola.
A solução passa pelo maior investimento na aquisição de autocarros por parte do Governo e, por outro lado, pela criação de facilidades para o sector privado reforçar a sua frota.
É preocupante que as pessoas sejam transportadas, em pleno século 21, dentro de cidades, em carrinhas de caixa aberta, como se de gado se tratasse e em condições que colocam a sua vida permanentemente em risco.
O que os moçambicanos querem do Governos é que o mesmo providencie medidas a curto prazo para que o seu sofrimento acabe!
No entanto, é preciso reconhecer que não basta, simplesmente, pensar no aumento da frota dos TPM. É preciso desenhar vias alternativas para o escoamento do tráfego e permitir que um autocarro faça mais viagens e transporte mais gente.
O investimento em novos autocarros tem que ser acompanhado, por isso, de iniciativas que visem a abertura de novas estradas para descongestionar das principais vias da capital. Caso isso não aconteça, mesmo que tenhamos muitos autocarros, nada será resolvido. A produtividade, por machimbombo, continuará baixa e a crise permanecerá!”
Para alguns analistas de transporte e tráfego urbano, os problemas de mobilidade enfrentados pelas populações começaram na concepção da rede viária, com apenas uma ou duas vias de ligação entre estas cidades e os distritos que hoje formam grandes aglomerados populacionais e, curiosamente, são as mesmas vias que dão acesso ao tráfego oriundo de outras províncias. No seguimento desta análise, constata-se também, a construção de ruas e a implantação de novos bairros sem nenhuma articulação em termos de plano urbano que permitisse a comunicação desses mesmos bairros, entre si, sem utilizar as vias que viessem dar as áreas centrais das cidades.
A visão dos transportes públicos em todas as cidades de Moçambique deve ser de uma rede viária bem planeadas com níveis de serviço adequados para satisfazer a procura, viaturas adequadas em todas as rotas, um operador por rota e uma operação bem organizada e eficiente que seja lucrativa, a uma tarifa acessível. Esta visão pode ser materializada, mas apenas se os sectores público e privado tiverem a vontade e a determinação para fazê-la funcionar: a tarefa não será fácil.